Criança emburrada com pais discutindo ao fundo, representando o impacto do divórcio nos filhos.

Divórcio: como falar com as crianças?

0 a 10 anos
Artigo
Abr 23, 2021
13mins

Vamos explorar a delicada tarefa de falar sobre divórcio com crianças, oferecendo orientações práticas e sensíveis para pais que enfrentam essa situação desafiadora.

A decisão de se separar é uma das mais difíceis para um casal, mas quando há filhos envolvidos, o desafio ganha novas camadas de cuidado. Saber como conversar sobre o divórcio com as crianças é essencial para transformar um momento de ruptura em uma oportunidade de fortalecer laços e garantir segurança emocional aos pequenos.

Neste texto, vamos caminhar juntos por orientações práticas para ajudar pais e mães a enfrentarem essa conversa com sensibilidade.

A chave está na comunicação honesta e adaptada à idade da criança, sempre priorizando um ambiente acolhedor e livre de tensões. É fundamental explicar que, mesmo com mudanças na rotina, o amor dos pais permanece inabalável – como um porto seguro em meio às transformações.

Apesar dos pequenos representarem um peso considerável na balança na hora da separação, eles jamais devem ser o único motivo pelo qual a união deve continuar, mas os efeitos do desenlace devem sempre ser pensados visando o bem-estar das crianças.

Isso pode ser um tanto difícil, principalmente em algumas idades, mas com cuidado, amor e muita maturidade e respeito, os impactos do fim da relação sobre os pequeninos podem ser os menores possíveis.

Boa leitura!

A delicada tarefa de falar sobre divórcio com crianças

Conversar sobre divórcio com os filhos não é um "bate-papo" qualquer. É um daqueles momentos em que cada palavra conta, e o coração parece apertar só de imaginar como a criança vai reagir.

O primeiro passo é respirar fundo e escolher um momento em que todos estejam calmos – nada de falar sobre isso antes da escola ou na correria do dia a dia. O ambiente? Priorize um lugar familiar, onde a criança se sinta segura, como o quarto dela ou a sala de estar.

E aqui vai o segredo: use uma linguagem que ela entenda. Para os menorzinhos, frases curtas e concretas funcionam melhor ("Papai e mamãe vão morar em casas diferentes, mas você vai ver os dois sempre"). Já os mais velhos podem precisar de mais detalhes, sempre sem culpar ninguém.

O mais importante é deixar claro que o amor por ela não muda – e que a separação é entre os adultos. Crianças costumam se sentir culpadas, então reforce: "Isso não é sua responsabilidade". Esteja preparado para perguntas difíceis ("Vocês vão voltar a namorar?") e acolha choros ou silêncios sem pressionar.

Lembre-se: não é uma conversa única, mas o início de um diálogo que vai continuar conforme as dúvidas surgirem. E sim, vai dar frio na barriga – mas é assim mesmo que se constrói confiança.

Orientações para pais que enfrentam essa situação desafiadora

Escolha o timing certo: Nada de conversas apressadas ou em dias cheios de estresse. Marque um momento em que todos possam estar presentes e focados – e estejam preparados para repetir a conversa quantas vezes a criança precisar.

Mantenha a linguagem simples: Evite termos como "processo judicial" ou "guarda compartilhada" com os pequenos. Use exemplos concretos: "Você vai dormir na casa do papai às segundas e quartas, e na da mamãe às terças e quintas".

Deixe a porta aberta para perguntas: Crianças podem demorar dias para formular dúvidas. Esteja disponível e responda com paciência, mesmo que a pergunta seja "Posso levar meu hamster para as duas casas?".

Não jogue a culpa no outro: Frases como "Seu pai/mãe não quis mais ficar" só geram mágoa. Opte por "Nós dois decidimos que seria melhor assim", mantendo o respeito mútuo.

Crie rituais de segurança: Uma frase que se repete sempre ("Nossa família mudou, mas meu amor por você é eterno") ou um objeto de transição (um ursinho que vá nas mudanças de casa) ajudam a dar estabilidade.

Cuide da sua rede de apoio: Você também precisa de colo! Converse com amigos, familiares ou um terapeuta para não descontar suas frustrações nas crianças.

Veja também: Pais e filhos: Precisamos nos adaptar

Comunicação aberta, honesta e adaptada à idade e maturidade da criança

Imagine que explicar o divórcio para uma criança é como montar um quebra-cabeça: cada peça precisa ser do tamanho certo para caber na cabeça dela. Não adianta dar informações de adulto para um pequeno de 5 anos, assim como não dá para infantilizar um pré-adolescente. A chave? Falar a verdade, mas na medida certa.

Para os menorzinhos (até 6 anos), use frases curtas e exemplos concretos: "Papai e mamãe vão morar em casas diferentes, mas você sempre vai ter um quarto nos dois lugares". Evite detalhes complexos e repita a mensagem quantas vezes ela precisar – crianças pequenas assimilam por repetição.

Já para os maiores (7 a 12 anos), seja um pouco mais específico, sem entrar em brigas de casal: "Nós dois estamos tristes com isso, mas decidimos que seria melhor assim. Você pode perguntar qualquer coisa que a gente responde juntos".

Adolescentes exigem transparência, mas sem trauma: "Se quiser, podemos conversar sobre como você se sente com as mudanças. Seu bem-estar é nossa prioridade".

Dica de ouro: Não invente histórias como "Papai viajou a trabalho para sempre". A longo prazo, a mentira gera desconfiança. Prefira algo como: "Nem sempre os adultos acertam, mas estamos aprendendo a ser melhores pais assim".

E o mais importante: deixe claro que ela pode sentir raiva, medo ou confusão – e que não há problema em falar sobre isso. Às vezes, uma pergunta simples como "O que você acha que vai mudar?" abre espaço para um diálogo sincero.

Relação saudável entre o casal deve prevalecer

Não é porque a relação não deu certo que os pais precisam ficar em pé de guerra em lados opostos. Lembrem-se: vocês não são adversários e, na criação dos filhos, devem ser aliados.

Por isso, mesmo se não for possível ter uma amizade, construir uma relação saudável, harmônica e sólida com o ex é importantíssimo, pois passa para a criança a sensação de segurança e de que, independente de qualquer coisa, os pais estarão juntos por ela, se ela precisar.

Ouça o que as crianças têm a dizer

Não deve ser nem um pouco fácil para alguém com tão pouca idade ver o papai ou a mamãe indo embora de casa, não é mesmo? Por isso, os sentimentos dos pequenos podem e devem ser levados em consideração.

O ideal é sentar com eles e conversar sobre a separação e/ou o divórcio, explicar de forma sincera o que isso significa e perguntar para eles como eles se sentem sobre o assunto. Tente transmitir às crianças que entende o que elas estão sentindo e como deve estar sendo difícil para elas, mas que essa foi a melhor opção que você e seu cônjuge encontraram.

Não menospreze de forma alguma os sentimentos delas, e se não souber o que dizer em algum momento, apenas passe conforto e acolhimento.

Não faça das crianças um cabo de guerra

Depois de separados, não fale mal do seu ex na frente das crianças - e cobre a mesma postura do outro lado. Da mesma forma, não coloquem os filhos em situação de um cabo de guerra, sugerindo a ele escolher um lado para apoiar. Isso só causará frustração e angústia nos pequenos, já que escolhendo um lado, automaticamente devem abrir mão do outro.

As consequências disso incluem, muitas vezes, traumas que podem durar anos para serem tratados. Manter um tratamento cordial com o seu ex, sem disputas ou comentários desnecessários é importante para que os filhos se sintam em família, ainda que um dos pais não morem com eles.

Ame seu filho incondicionalmente

A principal base para que as crianças consigam lidar com a separação da melhor maneira possível é o amor.

Façam com que os pequenos se sintam amados e que mesmo com os pais separados, os filhos vão continuar sendo a coisa mais importante da vida de ambos e que, independente do que houver, o amor entre vocês vai continuar sendo o mesmo. Crianças que se sentem amadas e queridas têm chances menores de terem problemas psicológicos ou transtornos emocionais no futuro.

Como escolher o momento e o ambiente adequados para essa conversa?

Duas crianças sentadas em um sofá com expressões tristes, enquanto seus pais discutem em primeiro plano, representando o impacto emocional do divórcio nos filhos.

Pense assim: não existe "hora perfeita", mas dá para evitar os piores momentos! Aquele dia cheio de compromissos, a hora de dormir ou logo depois de uma briga? Melhor pular. O ideal é escolher um momento em que todos estejam calmos – de preferência num dia tranquilo, sem pressa para sair ou resolver outras coisas.

O ambiente faz toda a diferença

  • Em casa, num cantinho onde a criança se sinta segura (como o sofá da sala ou a cama dela).
  • Longe de distrações – desligue a TV, guarde o celular e deixe o ambiente o mais íntimo possível.
  • Se possível, os dois pais juntos (mesmo que seja difícil), para mostrar união no cuidado.

Se a criança estiver brincando ou relaxando, não interrompa. Espere ela terminar o que está fazendo e diga algo como: "Filho(a), a gente precisa conversar sobre uma coisa importante. Você topa agora ou prefere depois do lanche?". Assim, ela se prepara emocionalmente.

E se rolar um imprevisto?

A criança começa a chorar, foge do assunto ou faz mil perguntas de uma vez? Não entre em pânico. Respire e diga: "Se estiver difícil agora, a gente pode continuar mais tarde, tá?". O importante é que ela saiba que pode voltar ao assunto quando se sentir segura.

Lembre-se: não é um tribunal – é um diálogo que vai se construir aos poucos, com paciência e afeto.

Como explicar as mudanças que ocorrerão na vida familiar?

Vamos combinar: crianças são experts em perceber quando algo muda – seja a cor do sofá ou o tom da nossa voz. Por isso, tentar esconder as mudanças do divórcio só gera mais ansiedade. O segredo é explicar com clareza, mas sem drama, mostrando que elas não perderam o chão – só ganharam um novo mapa.

  • Mencione o que vai mudar de forma concreta: "Você vai dormir na casa da mamãe de segunda a quarta, e na do papai de quinta a domínio. Vamos combinar os detalhes juntos!".
  • Destaque o que permanece: "Seus brinquedos vão estar nos dois lugares, e sempre vamos te buscar na escola como combinamos".
  • Envolva a criança (sem pressionar): Pergunte: "O que você acha de deixar um cobertor igual nas duas casas?" ou "Quer ajudar a decorar seu quarto novo?". Isso dá a ela uma sensação de controle em meio às mudanças.
  • Não prometa o impossível: Evite frases como "Tudo vai ser igual" ou "Nunca vamos discutir". Prefira: "Algumas coisas vão ser diferentes, mas nosso amor por você é pra sempre".
  • Crie um calendário visual com cores para cada casa – assim, ela sabe onde estará cada dia, e a rotina vira um jogo, não um mistério.

Como lidar com as reações emocionais das crianças?

Ah, o coração das crianças... Ele pode explodir de raiva, encolher de tristeza ou ficar cheio de perguntas sem resposta. Tudo isso é normal! A dica de ouro? Não tente consertar – acolha. Vamos às estratégias que funcionam:

Para a criança que chora sem parar

Abrace e diga: "Sei que está doendo. Pode chorar à vontade, estou aqui". Não minimize com frases como "Não é tão grave". Em vez disso, valide: "É difícil mesmo, né?".

Para quem fica com raiva

Se ela gritar "Odeio vocês!", respire fundo e responda: "Entendo que está brava. Quando quiser, podemos conversar sobre o que te deixou assim". Ofereça uma válvula de escape: massinha de modelar, um travesseiro para socar ou uma playlist de músicas "bravas".

Para a culpa que aparece

Se ouvir "Foi porque eu briguei na escola?", corte na hora: "Nada do que você fez causou isso. A decisão foi dos adultos, e continuamos te amando igual". Repita isso quantas vezes forem necessárias – crianças pequenas podem precisar ouvir 20 vezes.

Para a ansiedade que não passa

Crie rituais de segurança:

  • "Toda noite, às 8h, você pode me ligar para dizer boa noite, mesmo na casa do papai".
  • Deixe um objeto de transição (um ursinho, uma foto) que vá com ela entre as casas.

Para o silêncio que preocupa

Não force a barra. Diga: "Se quiser desenhar, escrever ou fazer mímicas para explicar como está se sentindo, eu estou aqui". Às vezes, uma caixa de lápis de cor fala mais que palavras.

Para as regressões (voltar a chupar dedo, fazer xixi na cama)

Não brigue! É a forma dela dizer "Estou assustada". Conforte: "Se precisar de um abraço de bebê, estou aqui. Você é seguro para sentir isso".

Não use a criança como terapeuta – seu desabafo de "Seu pai/mãe me magoou" vira um peso nas costas dela. Converse com amigos ou um profissional, mas mantenha os pequenos longe dos conflitos.

Como manter uma coparentalidade saudável?

Coparentalidade saudável não é sobre ser "amigão" do ex – é sobre transformar ex-casais em superpais em equipe - mesmo que o coração ainda esteja um pouco machucado. A meta? Criar um "nós" pelos filhos, mesmo quando o "nós" do casal acabou. Vamos às regras do jogo:

Crie um "manual de instruções" juntos

  • Combinem regras básicas (hora de dormir, lição de casa, uso de telas) que valem nas duas casas.
  • Use apps de coparentalidade para compartilhar agendas, despesas e comunicados sem discussões por WhatsApp.

Separe o papel de pai/mãe do papel de ex-parceiro

Na frente das crianças, nada de comentários passivo-agressivos como "Pergunta para seu pai, ele que sabe". Prefira: "Vamos combinar isso juntos e te avisamos".

Combine um "código de guerra"

Quando a tensão subir, usem uma palavra-chave (como "abacaxi") para lembrar: "Pare, isso é sobre as crianças". Funciona como um freio de emergência emocional.

Celebre juntos (mesmo que seja virtualmente)

Mandar um "Parabéns pela nota boa, filho! 🎉" no grupo da família mostra união. Não deixe que a mágoa apague as conquistas dos pequenos.

Faça reuniões de "empresa família"

Uma vez por mês, conversem por 15 minutos (pode ser por chamada) para alinhar:

→ Como está o humor da criança?

→ Precisa ajustar a rotina?

→ Tem alguma preocupação nova?

Não use as crianças como mensageiras

Nada de "Pergunta para sua mãe se ela vai pagar a aula de natação". Comuniquem-se diretamente, mesmo que seja por e-mail curto e objetivo.

Tenha um mantra para crises

Quando a raiva bater, repita mentalmente: "Meu filho merece pais que se respeitam, não que se amem".

Não espere perfeição – haverá dias em que vocês vão brigar ou errar. O importante é reparar: "Filho, desculpe por termos discutido na sua frente. Vamos melhorar".

Recursos úteis para as crianças

Quando as palavras dos adultos não bastam, histórias, brincadeiras e ajuda profissional podem ser a ponte que falta para acalmar o coração dos pequenos. Vamos aos recursos que realmente funcionam:

Livros que falam a língua deles

  • "Lá e Aqui" (Carol Moreira): Mostra com delicadeza como uma menina divide sua vida entre duas casas.
  • "Duas Casas, Um Coração" (Patricia Auerbach): Ideal para os menorzinhos, com ilustrações que explicam o amor incondicional.
  • "Divórcio: Manual de Instruções para Crianças" (Catarina Beato): Para os maiores, com atividades práticas e linguagem descomplicada.

Ferramentas para expressar emoções

  • Diário ilustrado: Deixe a criança desenhar ou colar recortes sobre seus sentimentos.
  • Bonecos de família: Use miniaturas de brinquedo para ela montar cenários e mostrar como vê a nova dinâmica.

Jogos terapêuticos

  • "O Monstro das Cores" (versão jogo): Ajuda a identificar emoções através de cores e histórias.
  • Quebra-cabeça familiar: Personalize um com fotos das duas casas, reforçando que todas as peças são importantes.

Apps que ajudam

  • "Cozi": Calendário compartilhado onde a criança vê onde estará cada dia (com ícones divertidos).
  • "Puppet Pals": Permite criar histórias animadas com personagens, ideal para externalizar medos.

Apoio profissional

  • Terapia infantil com especialistas em divórcio: Muitos planos de saúde cobrem sessões com psicólogos infantis.
  • Grupos de apoio: Instituições como SOS Divórcio oferecem encontros com outras crianças na mesma situação.

Conclusão

O divórcio nunca será um tema fácil, mas pode ser uma página virada com respeito e cuidado – principalmente quando os filhos estão no centro dessa história. Como vimos, a chave está em trocar o "nós acabamos" por "vamos reconstruir", sempre priorizando a segurança emocional das crianças.

Lembre-se:

  • Não existe manual perfeito, mas diálogos honestos e adaptados à idade são a base para minimizar traumas.
  • A culpa nunca é da criança – e repetir isso (com palavras e ações) é tão importante quanto explicar as mudanças práticas.
  • A coparentalidade saudável não é um conto de fadas, mas um esforço diário para mostrar aos pequenos que o amor deles é maior que qualquer desavença.

Se hoje o caminho parece cheio de pedras, pense que cada conversa sincera, cada abraço dado no momento certo e cada ritual mantido são tijolos de um novo porto seguro. E não se esqueça: buscar ajuda profissional não é fraqueza, mas um ato de coragem para proteger quem mais amamos.

A separação pode ter marcado o fim de um relacionamento, mas é também o início de uma nova forma de amar – mais madura, consciente e, acima de tudo, focada no bem-estar das crianças. Porque, no fim das contas, família não é sobre morar no mesmo teto, mas sobre construir laços que resistem a qualquer tempestade.

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