Uma mulher de costas, abraçando duas crianças que estão sorrindo.

Adoção: como é o processo no Brasil?

0 a 10 anos
Artigo
Dez 12, 2024
11mins

Entenda como funciona o processo de adoção no Brasil, compreendendo os aspectos legais, emocionais e práticos envolvidos!

Um dos maiores exemplos de ato de amor que temos, a adoção é uma atitude que transforma vidas, tanto de quem adota quanto de quem é adotado.

Oferecendo a crianças e adolescentes a oportunidade de um lar seguro e acolhedor, no Brasil, esse processo é regido por uma série de normas legais que visam proteger os direitos dos adotantes e dos adotados, garantindo que a adoção ocorra de maneira ética e responsável.

Além dos aspectos legais, a adoção envolve uma importante dimensão emocional para as crianças que buscam um novo lar e para os pais adotivos que desejam expandir suas famílias.

No texto abaixo, vamos falar sobre o processo de adoção no Brasil, explorando os aspectos legais, emocionais e práticos envolvidos, além de discutir os requisitos para se tornar um pai/mãe adotivo.

Boa leitura!

O que significa adoção?

A palavra “adoção” deriva do latim “adoptio”, que significa “escolher” ou “opção”, refletindo a escolha deliberada de acolher alguém como membro da família. Assim, o conceito de adoção, se refere ao ato jurídico que cria uma relação de filiação entre um adotante e uma criança ou adolescente que não é biologicamente seu filho.

Neste processo legal, uma pessoa ou casal assume a responsabilidade parental sobre o adotado, desligando-o de qualquer vínculo com sua família biológica, exceto em casos específicos como impedimentos matrimoniais.

Quanto tempo demora a fila de adoção?

No Brasil, o tempo de espera para adoção varia por diversos fatores, podendo levar cerca de um ano para ser concluído se o perfil do adotante se alinhar com as crianças disponíveis.

Em outros casos, essa duração pode se estender para três anos e meio ou mais, quando surgem complicações ou quando o perfil desejado é muito específico, como a preferência por crianças recém-nascidas ou com características específicas de saúde e de etnia.

Para crianças de até três anos, a média de espera pode ser de cinco a seis anos, especialmente porque a maioria das crianças disponíveis para adoção é mais velha. Além disso, a alta demanda por bebês contribui para essa longa espera.

A escolha criteriosa dos adotantes em relação ao perfil da criança pode prolongar o processo, já que muitos preferem adotar crianças saudáveis e com menos de três anos.

Qual a renda mínima para adoção?

Na legislação brasileira não é estipulada uma renda mínima para que uma pessoa ou casal possa adotar uma criança ou adolescente.

O processo de adoção pode ocorrer independentemente da situação financeira dos adotantes, e não existe preferência na fila de adoção para aqueles que possuem uma renda mais elevada.

O processo de adoção no Brasil

Com a intenção de garantir a segurança e o bem-estar das crianças e adolescentes que buscam um lar, o processo de adoção no Brasil é estruturado em várias etapas.

O primeiro passo para adotar é procurar a Vara da Infância e Juventude da sua região. Os candidatos devem apresentar documentos pessoais, comprovantes de bons antecedentes criminais e atestados de saúde física e mental. Após a entrega da documentação, é necessário participar de um curso preparatório psicossocial, que ajuda a preparar os adotantes para a nova realidade familiar.

Uma equipe interdisciplinar, composta por psicólogos e assistentes sociais, realiza entrevistas e avaliações dos candidatos para entender suas motivações e adequação ao papel de pais adotivos. O parecer dessa equipe é enviado ao Ministério Público, que também analisará o caso.

Após a habilitação, os adotantes são incluídos no Sistema Nacional de Adoção (SNA) e podem ser apresentados a crianças que atendem ao perfil desejado. Um estágio de convivência é então realizado, onde os adotantes assumem a guarda provisória da criança, permitindo que se conheçam melhor antes da decisão final sobre a adoção.

Após o estágio de convivência, um relatório conclusivo é elaborado e enviado ao juiz responsável, que tomará a decisão final sobre a adoção. Se aprovada, a adoção se torna definitiva após o cumprimento dos prazos legais.

Aspectos legais, emocionais e práticos envolvidos

Reconhecido por ser um procedimento complexo, o processo de adoção no Brasil envolve aspectos legais, emocionais e práticos.

Aspectos Legais

No Brasil, a adoção é regulamentada principalmente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pela Lei nº 13.509/2017. Os requisitos legais incluem:

  • Idade mínima: O adotante deve ter pelo menos 18 anos;
  • Capacidade civil: O adotante deve ser legalmente capaz de assumir responsabilidades parentais;
  • Estabilidade familiar: É necessário demonstrar um ambiente familiar estável e adequado;
  • Ausência de antecedentes criminais: O adotante não pode ter condenações por crimes contra crianças ou adolescentes;
  • Diferença etária: Deve haver uma diferença mínima de 16 anos entre o adotante e o adotado.

Outro artigo que representa os direitos das crianças e adolescentes é o artigo 227 da Constituição Federal, principalmente o parágrafo 6º, que garante os mesmos direitos e oportunidades para os filhos, sejam eles biológicos ou adotados, independentemente da forma como chegaram à família.

Isso representa um marco de igualdade, ao assegurar que não haja distinção, reforçando a proteção integral à criança e ao adolescente e, assim, garantindo a inclusão de todos no núcleo familiar de forma igualitária.

Aspectos Emocionais

A adoção é um ato emocional, tanto para os adotantes quanto para as crianças. Para os pais, é uma oportunidade de formar laços familiares significativos e oferecer um lar amoroso a uma criança em situação de vulnerabilidade.

Por isso, é muito importante que os adotantes estejam preparados para enfrentar desafios emocionais, como a adaptação da criança ao novo ambiente familiar e a superação de traumas passados.

Vale também considerar que a construção de vínculos afetivos requer tempo e paciência. A aceitação das diferenças culturais e históricas entre os adotantes e a criança também desempenha um papel importante no sucesso da adoção.

Aspectos Práticos

Para garantir o sucesso da adoção, é importante preparar o lar para receber uma nova criança, realizar um planejamento financeiro e adaptar a rotina familiar. Os adotantes devem estar prontos para fornecer não apenas um ambiente seguro, mas também recursos emocionais e financeiros adequados para o desenvolvimento da criança.

É recomendável que os pais adotivos participem de cursos preparatórios que abordam temas como o desenvolvimento infantil, a construção de vínculos afetivos e as particularidades da adoção, para facilitar a criação de um ambiente propício para a integração da criança na nova família.

Diferentes tipos de adoção

Miniatura de uma família, ao lado de um malhete, com um juiz ao fundo.

No Brasil, existem diferentes tipos de adoção, com características e requisitos legais específicos.

  • Adoção Conjunta: realizada por um casal que adota uma criança ou adolescente em conjunto, é a forma mais comum de adoção no Brasil.
  • Adoção Unilateral: quando apenas um dos cônjuges ou companheiros adota o filho do outro, geralmente em casos onde não há o nome de um dos genitores na certidão de nascimento ou quando um dos pais perdeu o poder familiar.
  • Adoção Póstuma: permite que uma pessoa manifeste a intenção de adotar antes de falecer, e essa vontade é respeitada após sua morte.
  • Adoção Homoparental: realizada por casais homoafetivos ou por uma única pessoa homossexual, é uma modalidade reconhecida legalmente e segue os mesmos trâmites das adoções para casais heterossexuais.
  • Adoção Tardia: adoção de crianças maiores de sete anos, que muitas vezes enfrentam dificuldades para serem adotadas devido a preconceitos ou preferências por crianças mais novas.
  • Adoção Bilateral: envolve casais que são casados ou têm união estável, podendo também incluir ex-parceiros que mantêm vínculos afetivos com a criança.
  • Adoção Internacional: quando os adotantes residem fora do Brasil e desejam adotar uma criança brasileira. É um tipo de adoção considerada uma medida excepcional, que só deve ser realizada após esgotadas todas as possibilidades de adoção nacional.

Neste caso, o processo envolve etapas como:

  • Regulamentação Específica: as adoções internacionais devem seguir normas específicas do país de origem da criança e do país onde os adotantes residem;
  • Homologação Judicial: as adoções internacionais precisam ser homologadas por um tribunal tanto no Brasil quanto no país do adotante;
  • Agências Credenciadas: os adotantes utilizam agências especializadas para facilitar o processo e garantir que todas as normas legais sejam cumpridas.

Desafios e alegrias da adoção

O processo de adoção no Brasil é frequentemente marcado por burocracias, que podem resultar em longas esperas para os adotantes.

Essa demora é potencializada pela disparidade entre o número de crianças disponíveis para adoção e o número de adotantes, com mais de 34 mil pessoas dispostas a adotar, enquanto cerca de 4 mil crianças estão aptas para isso.

Outro desafio está na idealização por parte dos pais, que imaginam a figura do filho que desejam adotar, criando expectativas que podem não se alinhar com a realidade da criança, necessitando adaptar a nova dinâmica familiar.

Outro ponto de atenção está na busca da preferência pelos pais, com destaque para características específicas, como recém-nascidos ou crianças de até quatro anos, geralmente brancas e sem deficiências. Essas preferências não correspondem ao perfil das crianças disponíveis nas instituições, que muitas vezes são mais velhas e/ou com deficiência, contribuindo para a permanência das crianças em abrigos e aumentando a fila de espera.

Nos primeiros momentos, a convivência inicial entre adotantes e adotados pode ser desafiadora. Muitas vezes, as crianças vêm de contextos difíceis e podem apresentar comportamentos que exigem paciência e compreensão dos novos pais. O apoio psicológico e a busca por estratégias adequadas são fundamentais para superar essas dificuldades.

Além disso, a adoção ainda enfrenta preconceitos sociais, especialmente em relação à adoção de crianças maiores ou com histórico de traumas, que podem dificultar a aceitação da criança na nova família e na sociedade.

Apesar dos desafios, a adoção proporciona a oportunidade de criar laços afetivos profundos entre pais adotivos e filhos, transformando vidas através do amor e cuidado, oferecendo um lar seguro e acolhedor para a criança.

Para muitas crianças em situação de vulnerabilidade, a adoção representa uma chance de recomeço, longe das dificuldades enfrentadas anteriormente, incluindo o acesso à educação, saúde e um ambiente familiar estável.

Da mesma forma, os pais adotivos também vivenciam um crescimento pessoal ao longo do processo, refletindo sobre questões como empatia, resiliência e o verdadeiro significado da família.

Dicas para a adaptação familiar

Para facilitar o processo delicado da adaptação familiar na adoção, reunimos algumas dicas valiosas, tanto para os adotantes quanto para a criança.

  • Rotina familiar: estabelecer uma rotina semelhante à que a criança já tinha, ajuda a criar um senso de segurança e previsibilidade em um momento de tantas mudanças.
  • Evite visitas imediatas: evite receber muitas visitas de familiares e amigos nos primeiros dias, que podem dificultar a formação de laços entre os novos pais e a criança.
  • Ambiente acolhedor: permita que a criança se sinta bem-vinda em seu novo lar, decorando seu quarto e personalizando seu espaço da sua forma.
  • Gradualidade nas mudanças: novas atividades e regras devem ser introduzidas aos poucos, para não sobrecarregar a criança.
  • Comunicação e empatia: o diálogo aberto e honesto com a criança é a melhor forma de transmitir segurança e afeto.
  • Respeite o passado da criança: a história da criança deve ser tratada com respeito e sensibilidade, sem desmerecer suas origens.
  • Limites e Paciência: a adaptação ao novo lar deve acontecer com calma e consistência, reforçando as regras de maneira amorosa.
  • Apoio Profissional: o acompanhamento psicológico durante o período de adaptação pode ser muito benéfico.

Políticas públicas relacionadas à adoção no Brasil

O Brasil conta com diversas políticas públicas relacionadas à adoção com o objetivo de garantir os direitos das crianças e adolescentes, promovendo a convivência familiar e comunitária.

Para além do Marco Legal que inclui o trabalho do Estatuto da Criança e do Adolescente, o cumprimento da Lei nº 13.509/2017 e o Cadastro Nacional de Adoção, destacamos iniciativas, como:

  • Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária: visa garantir que crianças e adolescentes sejam criados em ambientes familiares, promovendo ações que fortaleçam as famílias em situação de vulnerabilidade social.
  • Famílias Acolhedoras: permite que famílias sejam cadastradas para acolher temporariamente crianças afastadas de suas famílias biológicas, evitando a institucionalização e proporcionando um ambiente mais humanizado.

Entre as medidas debatidas para melhorar o sistema de adoção no Brasil, destacam-se propostas, como:

  • Investimento em Serviços Públicos: aumentar o investimento em serviços públicos relacionados à adoção, incluindo mais profissionais capacitados nas Varas da Infância e Juventude para agilizar os processos.
  • Divulgação de Programas de Entrega Legal: ampliar a divulgação dos programas que permitem a entrega voluntária legal de crianças para adoção, incentivando pais que não podem cuidar de seus filhos a optarem por essa alternativa.
  • Busca Ativa por Pais Adotivos: buscar ativamente por famílias dispostas a adotar crianças fora do perfil mais procurado.
  • Flexibilização da Fila de Adoção: flexibilizar a fila de adoção, permitindo que alguns processos sejam acelerados quando não houver possibilidade de reintegração familiar.

Como elas afetam o processo?

As políticas públicas relacionadas à adoção no Brasil têm um papel crucial em moldar o sistema adotivo, influenciando tanto os desafios enfrentados quanto as oportunidades disponíveis.

Essas políticas visam garantir que o processo de adoção priorize sempre o bem-estar da criança. O ECA e outras legislações estabelecem diretrizes claras sobre como deve ser conduzido o processo, assegurando que as necessidades e direitos das crianças sejam respeitados durante toda a adoção.

Além disso, a criação de programas que ofereçam suporte após a adoção é fundamental para garantir que as famílias adotivas recebam assistência na adaptação e na resolução de possíveis dificuldades emocionais ou comportamentais que possam surgir após a adoção.

Conclusão

Neste texto foi possível compreender o quão complexo é o processo de adoção no Brasil e a importância da burocracia em todas as etapas do processo, para garantir o bem-estar da criança ou adolescente que será adotada.

Nesse ponto, vimos a importância de marcos legais, programas, iniciativas e políticas públicas que reafirmam o cuidado integral com os jovens através do ECA, para garantir que o processo de adoção aconteça de forma realmente benéfica para o seu desenvolvimento.

De forma prática, vimos que o processo de adoção no Brasil envolve a verificação de aspectos práticos dos adotantes, como idade mínima, capacidade civil, estabilidade familiar, antecedentes criminais, entre outros pontos.

Para além desse caráter prático, a adoção leva em conta também os aspectos emocionais envolvidos nessa atitude, que vai remodelar a organização de uma família, exigindo adaptações tanto dos adotantes quanto dos adotados.

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