Obesidade e deficiências nutricionais nas pacientes gestantes e pós-parto
Conheça os riscos e os principais hábitos que podem prevenir o sobrepeso durante a gestação. Saiba mais!
Introdução
A gestação e o pós-parto são situações em que o organismo da mãe passa por muitas alterações hormonais e adaptativas para manter a regulação da fisiologia materno fetal, com a finalidade de prevenir assim as morbidades decorrentes nesta fase da vida da mulher1.
A presença da obesidade atualmente na população mundial vem apresentando curva ascendente. No Brasil, estima-se que cerca de 40% da população encontra-se entre o sobrepeso e a obesidade2. A obesidade está também relacionada a quadros de anovulação - interrupção da ovulação - e de infertilidade feminina, assim como maior taxa de aborto5.
Estudos apontam que o aumento da ingestão de alimentos industrializados de alto valor calórico e baixo potencial nutritivo, associado à falta de atividade física regular, seriam os fatores responsáveis pelo desenvolvimento da obesidade4.
Este quadro pode favorecer o desenvolvimento de resistência insulínica, diabetes gestacional, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral, trombose, artrite e maior risco no momento do parto6.
Quando associados a deficiências nutricionais tanto de vitaminas quanto de minerais pode acarretar sérias consequências. Estudos mostram que 2/3 das pacientes obesas no período da preconcepção já apresentam deficiências nutricionais de vitaminas e minerais, as quais podem impactar na saúde materna e no desenvolvimento fetal11.
Ter uma alimentação saudável e balanceada é fundamental para melhorar a qualidade de vida da gestante e puérpera.
Principais deficiências nutricionais
Algumas das deficiências mais comuns em mulheres obesas são:
- Ácido fólico: pode aumentar o risco de defeito do tubo neural no feto;
- Vitamina D: pacientes obesas apresentam taxas mais baixas de vitamina D, importante para a absorção de cálcio e desenvolvimento do osso fetal10;
- Ferro: a carência de ferro pode levar à anemia, afetando tanto a mãe quanto o desenvolvimento fetal;
- Cálcio: ingestão inadequada de cálcio pode impactar a saúde da mãe (prevenção da hipertensão) e feto;
- Ômega 3: importante no desenvolvimento cerebral fetal - deficiências podem afetar o desenvolvimento cognitivo;
- Proteína: garante o crescimento adequado do feto e sua ingesta pode ser comprometida em dietas desequilibradas;
- Zinco: importante para o desenvolvimento fetal e sistema imunológico; - a obesidade atrapalha sua absorção;
- Complexo B: junto com ácido fólico, outras vitaminas do complexo B, são essenciais para o desenvolvimento neural e metabolismo.
Prevenção da obesidade na gestação
A obesidade durante a gestação apresenta riscos elevados de complicações tanto para mãe quanto para o feto, inclusive pode levar ao óbito materno-fetal.
Incentivar a participação em programas de mudança de estilo de vida que abordem dieta alimentar, atividade física, suporte emocional, orientações contraceptivas seguras para evitar que estas mulheres engravidem consecutivamente é extremamente importante13.
Associado a todas estas medidas, a realização de exercícios físicos sob orientação de um profissional capacitado e a realização de exames de monitoramento de glicemia com intuito de rastrear diabetes mellitus gestacional são recomendáveis, assim como o controle de níveis pressóricos e controle de vitalidade fetal, para evitar infortúnios9.
No pós-parto, devemos continuar a suplementação vitamínica, durante o período de amamentação, fornecendo adequada nutrição para mãe e para o recém-nascido. Além disso, a puérpera deve realizar consultas pós-parto para monitorar sua saúde, além de uma avaliação nutricional.
A abordagem integrada envolvendo vários profissionais da saúde, como nutricionistas, endocrinologistas, educadores físicos, obstetras, cardiologistas é fundamental durante a gestação e puerpério2.
É importante salientar que durante o período gestacional e puerpério ocorre um aumento das necessidades de macro e micronutrientes para o adequado desenvolvimento fetal e prevenção de patologias obstétricas. Por este motivo, devemos orientar a gestante e puérpera a fazer a utilização de suplementos alimentares adequados15-16.
Estudos relatam a relação entre suplementação durante o período de preconcepção, gestação e lactação com diminuição do tempo de concepção das mulheres obesas15-16, redução do risco de parto prematuro16, redução dos riscos de complicações perinatais (prematuridade, RPMO antes do termo, hemorragias pós-parto), melhorando a composição nutricional do leite materno (aumento níveis de vitamina D e Zinco).
Conclusão
O desenvolvimento de políticas de saúde pública, associada a uma dieta balanceada, suplementação de vitaminas e minerais podem ajudar reduzir o risco neste período crítico da gestação e pós–parto14.
Os micronutrientes são essenciais para uma gravidez saudável, devido sua importância na função celular básica. Estima-se que 2/3 da população de mulheres em idade reprodutiva tenham deficiências em micronutrientes1.
Suplementos com micronutrientes podem trazer mais benefícios do que administração isolada de ferro e ácido fólico. Um estudo demonstrou que a suplementação com micronutrientes, melhora status nutricional materno, além de diminuir os riscos de complicações no parto.
As dicas não substituem uma consulta médica. Não deixe de consultar o seu profissional de saúde para obter orientações individualizadas.
Referências
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