
Crise dos 3 anos de idade: como lidar? Confira 8 dicas para essa fase
Crise dos 3 anos? E agora, como lidar com essa nova fase da criança? Confira dicas para acompanhar esse momento do seu filho.
Seu filho aprendeu a falar, comer, engatinhar, andar, tornou-se uma criança cheia de habilidades e repertório, e você achou que o caminho começaria a ficar tranquilo, certo?
Então, ele chegou aos 2 anos e você se deparou com um novo termo: “a adolescência do bebê”. Uma fase conhecida na parentalidade como aquele momento em que a criança começa a descobrir o mundo, quer ser ouvida e entendida. E aos 3 anos, tudo passa?
Vamos te apresentar a “crise dos 3 anos”. O que é essa crise, como lidar, como entender e como ajudar os pequenos a atravessar essa nova fase. Com muita paciência e escuta ativa, esse momento pode ser de aprendizado e evolução, tanto para criança quanto para os pais.
Por que chamamos de “crise”?
É importante lembrar que, apesar de muitas fases da infância serem chamadas de crises, não há nada de errado com as vivências que eles passam!
A “crise” é, na verdade, parte da evolução da criança. É quando ela conquista novas habilidades, territórios e sentimentos, cresce e precisa lidar com tudo aquilo.
Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento, cada passo é uma nova descoberta. A criança está em constante evolução, em ritmo acelerado – e cabe a nós, como mães e pais, ter paciência para entender, guiar e buscar conhecimento para lidar com todas as crises.
O que é a crise dos 3 anos de idade?
Ufa, depois do terrible two (os terríveis dois anos), as coisas vão acalmar de novo, certo? Pois agora chegamos à crise dos 3 anos! Antes que você saia correndo em busca de ajuda, vamos te explicar um pouco sobre a criança de 3 anos.
Nessa idade, os pequenos já falam de forma um pouco mais clara. Assim, são eles são compreendidos não somente pelo seu núcleo familiar como também pelas pessoas ao redor.
E aquela busca que eles tinham por seu espaço no mundo continua, mas de forma mais fácil de ser entendida e com um repertório maior!
Pode-se considerar então que a crise dos 3 anos seja um terrible two atualizado. É a mesma criança, mais desenvolvida, com maior repertório de fala, que agora sabe dialogar e argumentar (a sua maneira) e que busca a mesma coisa: se firmar no mundo.
Por que a crise dos 3 anos de idade acontece?
Aos 3 anos temos uma criança pequena, e, definitivamente, não mais um bebê.
Mas isso não significa que ela ganha uma imensa maturidade durante a noite que antecede seu terceiro aniversário! Então, aquele processo de busca por autonomia e independência iniciado entre 1 ano e meio e 2 anos continua aos 3.
De acordo com o Instituto NeuroSaber, entre os 2 e 3 anos, 20% das crianças apresentam birras pelo menos uma vez ao dia, e de 50% a 80% ao menos uma vez por semana. As crises podem continuar em 60% dos casos aos 3 anos. Dessas, mais da metade pode continuar apresentando esses arroubos, mas isso tende a diminuir progressivamente. Estima-se que o temperamento explosivo se estenda durante toda a infância em 5% dos casos.
É importante, no momento da crise, checar algumas necessidades básicas da criança. Ela dormiu bem? Fez soneca? Se alimentou? Está precisando de atenção? Precisa descansar?
Por não saber ainda lidar e nomear sentimentos, cansaço ou fome podem ser gatilhos para frustrações e aumentar crises que seriam melhores resolvidas em momentos mais calmos.
Crise dos 3 anos de idade e terrible two: conheça a adolescência do bebê
A crise dos três anos é menos conhecida que a famosa crise dos dois, ou o terrible two. Mas fazem parte do mesmo processo de amadurecimento do cérebro. O que muda é o repertório da criança para argumentar e lidar com os sentimentos.
A boa notícia é que, quando lidamos bem com cada uma dessas crises, apresentamos ferramentas para as crianças começarem a se autorregular. Assim, a crise dos três tende a ser mais leve que a dos dois, e dos quatro, mais leve que a dos três.
Porém, ninguém aqui está dizendo que elas deixarão de existir, viu? Somos humanos, enfim.
É a crise dos 3 anos ou um comportamento atípico?
Se há dúvidas sobre até que ponto a “crise” está dentro do esperado, é importante conversar com o pediatra de sua confiança. Além de analisar a saúde física do pequeno nas consultas de rotina, esse profissional também acompanha o desenvolvimento psíquico e social da criança.
Ele pode ajudar a identificar se as crises e as birras estão de acordo com sua idade ou se sinalizam alguma questão que precisa ser analisada.
LEIA MAIS: Neuroatípico: o que é e quais são os sinais nas crianças
Como é o desenvolvimento da criança aos 3 anos
Aos 3 anos de idade, a criança está em uma fase incrível de muitas descobertas e aprendizado, e a imaginação dela está em alta. Elas adoram brincar de faz de conta, como ser um super-herói salvando o dia ou preparar uma refeição deliciosa em sua cozinha de brinquedo.
Essas atividades não são só divertidas, mas também essenciais para o desenvolvimento da criatividade e da habilidade de resolver problemas. O estágio simbólico é um dos quatro marcos do desenvolvimento infantil, e tem grande importância para que a criança entenda e defina sua própria identidade.
Nesse momento, ela usa diversos símbolos para poder expressar o que sente e como ela entende o mundo ao seu redor. Estes símbolos podem ser, por exemplo, um brinquedo, um desenho, ou até mesmo a fala. Quando ela brinca de faz de conta, por exemplo, ela está usando esses símbolos para aprender, construir seus próprios conhecimentos e se desenvolver.
Desenvolvimento do cérebro aos 3 anos de idade
O desenvolvimento cerebral aos 3 anos de idade está em plena atividade. A criança absorve muitas informações, o que faz que esse período seja uma ótima oportunidade para estimular seu intelecto.
É uma fase incrível do desenvolvimento infantil, onde tudo está acontecendo a todo vapor lá em cima. O cérebro está se transformando numa verdadeira central de aprendizado, absorvendo tudo o que vê, ouve e faz ao seu redor.
Até podemos comparar com um grande quebra-cabeças: o cérebro da criança está trabalhando para conseguir entender como todas as peças se encaixam, e assim poder construir o próprio caminho para o conhecimento.
Ler histórias juntos, explorar novos lugares e experimentar diferentes atividades sensoriais são ótimos jeitos de estimular a sua curiosidade e expandir seu mundo.
Por causa de toda essa atividade, é normal que no caminho aconteçam coisas que são difíceis de lidar, como as birras e as explosões emocionais da crise dos 3 anos. Nessa hora, entender o motivo desses comportamentos pode ajudar muito a lidar com eles.
Desenvolvimento das habilidades motoras
Em termos de habilidades motoras, aos 3 anos, a criança está se tornando cada vez mais independente. Eles adoram correr, pular, escalar e explorar o ambiente ao seu redor.
Empilhar blocos, desenhar com giz de cera e brincar com massinha são atividades que ajudam a aprimorar suas habilidades motoras finas, enquanto correr no parque e brincar de pega-pega desenvolvem suas habilidades motoras grossas.
Essas habilidades motoras também influenciam no desenvolvimento cognitivo. Atividades físicas podem estimular o cérebro, trabalhar a concentração, ajudar a aprimorar a linguagem e a expressão, aumentar a autoconfiança e estimular a regulação emocional.
Desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais
No aspecto emocional e social, aos 3 anos de idade a criança ainda está aprendendo a expressar e gerenciar suas emoções. E é exatamente essa “imaturidade” do cérebro que às vezes pode resultar em explosões emocionais, como birras e acessos de raiva quando as coisas não saem como ela esperava.
Nessa fase elas começam a entender a importância da amizade, e começam a mostrar sinais de empatia, como consolar um amigo que está chorando, por exemplo.
Quais são as características da crise dos 3 anos de idade?
Esta fase é marcada por várias características comportamentais que podem desafiar e tirar do sério até os pais mais calmos e experientes.
Aos 3 anos, é esperado que a criança consiga se comunicar um pouco melhor, com frases entre quatro e cinco palavras, pelo menos. Ela já consegue participar de conversas, cantar músicas e reproduzir histórias.
Maior poder de argumentação
Além disso, a criança de 3 anos consegue argumentar e defender seu ponto de vista. Claro, não como um adulto em um tribunal. Mas ela já adquiriu um pouco de repertório para tentar te fazer entender que não tem problema ela sair de casa de coturno e casaco em um dia de sol.
Busca por autonomia
Nessa idade, a criança também tem maior controle do corpo, mais força, mais habilidades físicas e cognitivas. Ela já consegue comer sozinha, vestir algumas peças de roupa ou calçados, pentear os cabelos e ajudar no próprio banho.
São situações da vida cotidiana que a criança está aprendendo a realizar sozinha, mas ainda precisa de supervisão ou do auxílio do adulto para que elas aconteçam da maneira certa.
Assim, um dos motivos da crise de 3 anos de idade é a busca por se firmar como indivíduo e conquistar sua independência. Ou seja, ela consegue fazer, ela vai querer fazer e não vai querer auxílio ou supervisão.
“Birra”
É nesse momento que pode acontecer o que muitos chamam de birra, mas que nada mais é do que a dificuldade dos pequenos em lidarem com a frustração.
Então, mesmo que aconteça em público e aqueles olhares julgadores ameacem te tirar do eixo, respire fundo e evoque o mantra “Perdoai e ignorai os que nunca levaram uma criança de três anos ao shopping!”
Durante a primeira infância, o cérebro da criança ainda não se desenvolveu completamente. De acordo com o Instituto NeuroSaber, “a birra infantil atua como se a parte mais primitiva do cérebro fosse acionada, mais precisamente a região inferior do órgão”. Assim, a “birra” pode ser uma forma de manifestar emoções que ainda estão confusas para a criança, como medo, insegurança e raiva.
Ao tentar realizar uma atividade que os adultos não julgam adequada para a idade - seja por segurança ou habilidade, a criança reclama. Ao contrário dos 2 anos, no qual episódios de se jogar no chão são mais comuns, aos 3 anos vemos mais momentos de gritos, tapas ou objetos atirados ao longe.
Lembre-se: é a parte mais primitiva do cérebro da criança que está respondendo! É nesse momento que o adulto precisa intervir, validar a frustração e ensinar o pequeno sobre como lidar com aquele sentimento. O modo como a criança atravessa a crise dos 3 anos está diretamente ligado com a forma que os adultos ao redor lidam com ela.
Explosões emocionais e comportamento agressivo
São períodos de intensa emoção, onde tudo parece ser motivo para uma birra.
É importante entender que o sistema responsável pela autorregulação ainda está em construção, por isso pode ser difícil para eles controlarem as emoções e expressar elas de maneira apropriada. É comum que esse desequilíbrio resulte em comportamentos agressivos, como bater, chutar ou morder.
Comportamento desafiador e desobediência
Como falamos antes, todo o sistema responsável pela inteligência emocional e autorregulação infantil ainda está se formando. Assim que entendem que eles são seres independentes (principalmente da mãe), eles podem começar a testar os limites e desafiar a autoridade dos pais.
Isso pode se manifestar de várias formas, como se recusar a obedecer às instruções mais simples, insistir em fazer as coisas do seu jeito ou até se recusar a cooperar em situações simples, como vestir-se pela manhã, por exemplo.
Teste de limites e fronteiras
A criança está explorando seu novo senso de autonomia e independência, e isso significa que eles podem tentar empurrar ou forçar os limites estabelecidos pelos pais.
Eles querem descobrir até onde podem ir e o que podem conseguir, e nessa hora é importante estabelecer limites claros e consistentes, com uma linguagem que a criança entenda com facilidade.
Dificuldade em seguir instruções
Concentração limitada e impulsividade podem dificultar para seu filho seguir instruções simples. Eles podem se distrair facilmente ou perder o interesse rapidamente, o que pode levar a frustrações para ambos os lados. Nesse caso, a dica é manter uma linguagem simples, clara, e que a criança entenda facilmente.
Como lidar com a crise dos 3 anos de idade?
Educar não é uma tarefa fácil, sabemos bem. É preciso reunir paciência, disposição e força de vontade em meio a todo o dia a dia de trabalho e afazeres domésticos.
Quando na correria da rotina diária seu filho de 3 anos começa uma pequena birra por uma situação que você não entende bem, como lidar? Como não piorar a situação, como ensinar ele a atravessar aquele momento?
Respire fundo e anote algumas dicas que podem funcionar.
1) Tenha calma e se muna de informações
Pode parecer um conselho óbvio, mas antes de qualquer coisa é preciso ter calma. É importante lembrar que a criança acabou de chegar ao mundo, está acionando uma parte primitiva do cérebro e o adulto da relação é você.
Por mais que as argumentações ou reclamações do seu filho de 3 anos pareçam sem sentido para você ou acionem algum gatilho interno, busque ter calma. Respire fundo e encontre um tom tranquilo para conversar com a criança e ajudar que ela se autorregule.
2) Abaixe à altura da criança e a olhe nos olhos
Uma das formas de a criança se sentir vista, de acordo com a psicologia, é quando o adulto abaixa à sua altura e conversa olhando em seus olhos.
A altura do adulto pode ser intimidante e uma conversa que poderia ser tranquila pode piorar a crise dos 3 anos de idade. Por isso, lembre-se que conversar com a criança à altura dela ajuda a acalmá-la.
3) Valide seus sentimentos, mas explique o necessário
É preciso aproveitar o momento para que a criança entenda que seus sentimentos são válidos. Ela pode se frustrar, pode ficar triste, pode ficar brava.
“Eu entendo que você está triste/frustrado/chateado por tal situação, mas…”
Explique claramente e de forma sucinta o porquê de as coisas não estarem acontecendo do jeito que ela quer. Sucinta porque muitas explicações podem deixar a criança perdida.
“Eu entendo que você está triste e gosta muito desse casaco, mas hoje está calor, e você precisa vestir uma roupa leve para brincar
4) Dê alternativas para a criança sentir sua autonomia respeitada
Dependendo do embate, você pode oferecer alternativas para a criança:
“Hoje vamos brincar no parque. Você escolhe entre essa bermuda e esse shorts? Qual camiseta você quer: a rosa ou a azul?”
“Podemos almoçar no shopping ou no restaurante da rua, qual você quer?”
Com alternativas pré-escolhidas pelos pais, a criança pode se sentir respeitada e parte da decisão final.
5) Esteja aberto ao diálogo e demonstre sentimentos
Boa parte da educação das crianças é feita com nossos exemplos. A forma como lidamos com as crises e birras dos pequenos será, muitas vezes, a maneira que elas espelharão para lidar sozinhas com esses momentos. Por isso, é importante ser um bom exemplo. Conversar, expor o que você está sentindo, abraçar, acolher.
6) Seja gentil, mas se mantenha firme
É importante manter o respeito e a gentileza ao lidar com as crianças, mas também firmar a posição dos pais. O diálogo é importante e necessário, mas as regras do dia a dia precisam ser passadas de forma firme.
Se a criança bater em você, por exemplo, é importante frisar seriamente, olhando nos olhos dela, que bater na mamãe, no papai, no irmão ou em que quer que seja, não pode. Essa regra precisa ser repetida quantas vezes forem necessárias. Mas não responda violência com mais violência.
Muito do embate entre filhos e cuidadores na crise dos 3 anos de idade acontece porque as crianças não têm noção do perigo ou de cuidados básicos e precisam da interferência dos adultos. Por isso, é preciso se manter firme ao passar a mensagem para a criança.
7) Pratique a escuta ativa
Um tópico importante é praticar a escuta ativa, para acalmar as crianças e até mesmo antecipar (e evitar) birras e crises. Algumas vezes, os momentos fora do esperado dos pequenos podem ser um pedido de atenção ou de escuta. Ouça, de verdade, preste atenção e acolha os sentimentos da criança.
Comportamento infantil aos 3 anos de idade: tem maravilhas também
Mesmo com toda a crise dos 3 anos de idade, a chegada à fase de criança pequena é uma das transformações mais legais de se acompanhar!
É quando ela conquista novas habilidades motoras e cognitivas, aprende novas brincadeiras, compartilha mais situações e se torna uma companheira presente em muitas atividades.
Com 3 anos de idade, a criança já consegue correr, pular, subir escadas e pode dar as primeiras pedaladas em triciclos, bicicletas com rodinhas ou de treinamento e similares.
Ela já consegue tirar e colocar sozinha a maior parte das suas peças de roupa e tem mais autonomia para seguir com o desfralde, com mais entendimento sobre seu corpo. Consegue fazer desenhos com formas, comer sozinha e lavar as mãos.
Nessa fase, a criança entende um pouco melhor os adultos e também é melhor entendida. É um poço de imaginação: acompanha histórias em desenhos e inventa os próprios jogos e narrativas.
A criança de 3 anos percebe melhor a causa e efeito das situações cotidianas e muitas vezes testa limites para compreender até onde elas podem acontecer. Lembre-se mais uma vez que o cérebro não está totalmente formado e essa análise feita pela criança pode ser um pouco dúbia!
As dicas não substituem uma consulta médica. Procure um profissional de saúde especializado para receber orientações individualizadas.
Referências
WADSWORTH, Barry J. Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget. 1996
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Desenvolvimento Infantil. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-da-crian…. 2024
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_de…. 2012